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06 setembro 2015

Facção Central [Discografia]

Um dos grupos de Rap (Não, não é tipo Emicida e Projota, muito menos Eminem) mais conhecido do país, Facção Central é uma daquelas bandas que te fazem sentir orgulho de ser brasileiro.

Formada na cidade e estado de São Paulo, Brasil, no ano de 1989, Facção alcançou tanto pela agressividade de suas letras quanto pela censura sofrida.

A primeira formação do grupo contou com os seguintes integrantes:
  • Nego
  • Jurandir
  • Dj Garga
Posteriormente sai esses integrantes e entram Carlos Eduardo (Eduardo), Washington Roberto Santana (Dum Dum) e “Erick 12”.

   Assim como a maioria dos integrantes de grupos de Rap, os membros do Facção vieram da favela, convivendo desde sempre com o tráfico a cada esquina, violência institucionalizada do Estado por parte da polícia, pobreza, cadeia e o resto que a gente confere em todo morro.
   Passar por problemas todos nós passamos, a diferença é o que fazemos com eles, e o grupo tomou os desafios como fonte de inspiração.

Facção não fala de romance, fala: 
  • Dos prejudicados que herdaram apenas a escravidão; 
  • Do menino que vê seus pais sem comer para não deixar os filhos com fome; 
  • Das crianças que se espelham no traficante porque não veem mais ninguém bem sucedido ali;
  • Do que o crime dá e o quão alto é o preço que ele cobra;
  • Que “O sistema tem que chorar, mas não com você matando na rua, o sistema tem que chorar vendo a sua formatura”;
  • Dos “Cuzão que critica: ‘Facção é pessimista’, não sabe quanto custa 6 anos de medicina”;
  • Que “Vitória não é carro, dinheiro e vagabunda, é injetar ódio no cérebro do conformado, informação no desinformado e autoestima no derrotado”;
  • Que “Não vejo um puto lutando pra favela ter escola, só pra me trancar e jogar a chave fora”;
  • Que “Não pôs no quarto e cozinha um azulejo, só alegrou traficante que quis o seu cachimbo aceso, você mesmo imprimiu santinho com a sua foto, infelizmente é Facção conversando com os mortos”;
  • Que “Não é pra curar AIDS e câncer a tecnologia, é pro internauta trocar foto de pedofilia. Só vejo a solução eficaz no nosso caso, um meteoro tipo aquele que extinguiu os dinossauros”;
  • Que “Abraça que foi abolida a escravatura, conta os pretos na TV, no outdoor da rua”;
  • Que “Não quero o poder que o sistema oferece através do refém, cuzão fazendo prece, quero o nome na calçada da fama sem morte, ser exemplo de vitória sem fuzil no carro forte”;
  • Não é simplesmente música, é manual da vida, injeta ânimo no peito.
É claro que com letras denunciando os podres da polícia, do governo e de outros, as ameaças e censuras não demorariam a chegar, e foi o que ocorreu. Ameaças por telefone, censura em rádios e até prisão por segundo o Ministério Público “apologia ao crime”.

   Versos Sangrentos, álbum de 1999, é o destaque, o vídeo “Isso aqui é uma guerra” conseguiu parar quase que o país. No vídeo é mostrado Eduardo, Dum Dum e outros assaltando residências, roubando carros e o que parece um banco ou algo do tipo. Rola cenas com eles chutando os reféns e matando uma mulher.

“[...] Vai se foder, descarrega essa PT
Mata o filho do boy como o Brasil quer ver
Esfrega na cara sua panela vazia
Exige seus direitos com o sangue da vadia
É a lei da natureza, quem tem fome mata
Na selva é o animal, na rua é empresário,
Inconsequente, Insano, doente.

[...] Quer seu filho indo pra escola e não voltando morto?
Então meta a mão no cofre e ajude nosso povo
Ou veja sua mulher agonizando até morrer
Por que alguém precisava comer.
ISSO AQUI É UMA GUERRA!”

   O álbum até passou, mas o vídeo foi censurado por “Apologia ao crime” e o grupo foi preso. O vídeo ficou no ar durante cerca de seis meses e rodou até na MTV, um dos motivos que acelerou ou causou sua censura.
   Eduardo foi a alguns programas de TV (Como o da Sônia Abrao e do João Gordo) e deu várias entrevistas, nas quais justifica o grupo dizendo que no fim do vídeo os dois criminosos pagam por ter entrado no crime, um é preso e o outro acaba morto. Justificativa que eu, particularmente achei bem convincente. Mas já sabe como são autoridades e governo aqui, né?!
   Uma das coisas que mais me chamaram a atenção nessas entrevistas foi o João Gordo ter dito que o clipe e a letra eram muito cru, muito violento e que isso fazia sim apologia ao crime. João Gordo, isso mesmo, integrante do Ratos de Porão dizer isso, ou foi ordem de quem está por cima ou hipocrisia pura.

   Parece que o Facção guardou o ódio da censura pra lançar o álbum A Marcha Fúnebre Prossegue (Um dos melhores, se não o melhor), que se inicia com uma introdução contendo um conjunto de notícias (de vários telejornais) falando sobre a censura.
   O álbum segue com a música Dia Comum, que fala da violência policial, sobre no geral, crime e as consequências de não reduzir a pobreza/miséria.

“Um Deus dividido por duas orações
Uma vítima ajoelhada implora pela vida
O ladrão nervoso, trêmulo, não quer a algema da polícia
A fome e a miséria mostram o fruto
Que a sociedade vai colher. 

O carro preto e branco chega.
O homem bom, o homem da lei, que só atira na cabeça de pobre,
Só da tapa na cara, só derruba porta de barraco.

[...] O filho da imigrante lavadeira sangra perto da porta giratória. 
Ninguém chora. Risadas, alívio. A cena de terror tem contorno de heroísmo e novela de final feliz.”

A Guerra Não Vai Acabar, simplesmente uma das melhores do álbum. É uma resposta à censura do vídeo.

“Aí, promotor, o pesadelo voltou
Censurou o clipe, mas a guerra não acabou;
Ainda tem defunto a cada 13 minutos;
Tem  cidade entre as 15 mais violentas do mundo.

[...] Destaque da TV, sensacionalista,
Que filma sem pudor o trabalho da perícia.
Contando buraco no crânio do corpo do pai morto,
Pela Glock que o sistema porco põe no morro.
Mas pra mim é 286 [código penal: “Apologia ao crime”] quando falo do sangue que escorre do pescoço do vigia,
Dentro do carro forte, enquanto descaso pra periferia
Transformar meu povo em carniça, tem facção na pista, sanguinário na rima

[...] Pode censurar, me prender, me matar
Não é assim promotor que a guerra vai acabar”

Depois dessas tantas polêmicas, aparece mais uma, em março de 2013, Eduardo posta no Youtube um vídeo dizendo que devido alguns conflitos sairia do grupo. Informando que deixou o Facção, mas não o Rap, tanto que já lançou CD duplo.

Após a saída de Eduardo, entra Moysés (pra abrir os caminhos do Facção), grava algumas músicas e saí do grupo, disse que enxergava a guerra de maneira diferente de Dum-Dum. A partir daí Dum-Dum é o único que carrega o Facção.

Lembrando que todas as letras no período em que Eduardo participou do grupo foram compostas por ele.

Fonte (Acesso em 4/9/15):

[1994] Juventude de Atitude
01. Somos Assim
02. Atrás Das Grades
03. Vida Baixa
04. A Malandragem Toma Conta
05. Artista Ou Não?
06. Pilantras
07. Roube Quem Tem
08. Fone Maldito